quinta-feira, 24 de março de 2011

Primeiro Dia - 01.02.2011

A partir de hoje, vou postar, sempre que possível, o diário de minha jornada referente aos caminhos que meu pai, Gastão Veloso de Melo, fez durante a II Guerra Mundial, além de alguns flashbacks e outros assuntos relacionados. É importante salientar que este diário está sendo construído dentro da cronologia do meu projeto, e não na cronologia da história do Brasil.


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1º. Movimento

Viagem com meu pai, Gastão Veloso de Melo, veterano da Força Expedicionária Brasileira - FEB, do Recife a Tamandaré.

02 - O caminho de pedras para o Farol



03-Gastão Veloso de Melo,
no farol de Tamandaré

Alegro
Meu pai patrulhou o litoral sul de Pernambuco, em Tamandaré.
Chegamos ao forte de Tamandaré, observamos o farol, dentro do Forte, lá bem no alto. Meu pai, então, caminha na direção do farol, sobre o caminho de pedras e reconhece o local. Fica com os olhinhos cheios de lágrimas... e fala: “era por aqui que eu caminhava, nessas pedras, pra ir lá pra cima e subir no farol para patrulhar a praia!”

Cantante
Soldados brasileiros patrulharam nosso litoral e o oceano Atlântico, especialmente por causa dos afundamentos de embarcações brasileiras e da ameaça de invasão pelos países do Eixo, (Alemanha, Itália e Japão), no período que antecedeu a entrada do Brasil na II Guerra Mundial e também durante o conflito.

O litoral nordestino, por causa de sua posição geográfica estratégica (sua proximidade com o noroeste da África e com a Europa) foi alvo de disputa. As aeronaves da época não tinham autonomia de vôo e necessitavam de um ponto de apoio e reabastecimento.

Apesar do ditador brasileiro Getúlio Vargas ser simpático à causa nazista, e manter acordos econômicos (especialmente a troca de bens de consumo brasileiros por material bélico alemão) com o governo Hitlerista, movimentos estratégicos dos Estados Unidos da América do Norte, levaram o Brasil a entrar na guerra. Com a entrada do Brasil na guerra, ao lado dos aliados (EUA, Reino Unido, União Soviética) a base aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, foi usada como ponto estratégico,

Caminhante
Observo meu pai com os olhos cheios de água, e fico muito emocionada com a emoção dele, e também por ser possível lhe propiciar essa experiência e por eu conseguir registrar esses momentos.

A passos lentos, e com a cabeça repleta de cabelos brancos e de lembranças, ele anda, passo a passo, até ao pé do farol e me mostra, com orgulho, a parte mais alta do farol onde ele ficava. Mostra-me também a praia e os canhões do forte.

Considero que a época de patrulhamento em Tamandaré foi importamte para ele.


2º. Movimento
Viagem de Tamandaré até Fazenda Nova, em Lajedo.


04-  Eu e meu pai na frente da casa onde ele nasceu

Alegro
A relação do homem jovem com sua pátria, nas décadas de 1930 e 1940, era permeada de patriotismo. Esse foi o caso de meu pai. Hoje algum sentimento patriótico é imperceptível na juventude brasileira.
Na época em que se alistou, meu pai precisou de uma autorização dos pais para servir no exército porque ainda não havia completado 18 anos, e por ele viver em zona agrícola, o serviço militar não lhe era obrigatório.

Cantante
A tentativa hitlerista de dominar o mundo, eliminando todos os povos não-arianos durou, na Europa, mais de uma década antes que fosse deflagrada a II Guerra Mundial.
Em 1942, quando meu pai se alistou, o mundo já estava em guerra.

Caminhante
Voltar à casa de meu avô, agora com o intuito de conversar com meu pai sobre parte da história de sua vida, e em especial sobre sua ida para a guerra é parte importante no meu processo criativo baseado nas realidades das famílias envolvidas em processos de guerras.


3º. Movimento
Viagem de Fazenda Nova a Calçado.

Alegro
Calçado foi o primeiro lugar que meu pai foi, ao retornar da guerra, para encontrar sua namorada, Enedina Alves de Melo. Chegou no dia 20 de outubro de 1945 e de lá pegaram um sanfoneiro e foram de carro-de-bois para Fazenda Nova, a casa dos pais dele, para a comemoração do seu retorno da Itália.
Foi também a cidade onde meu pai se casou com minha mãe.

Cantante
O sítio de origem de meu pai é parte do agreste pernambucano, área agrícula, que na época da II Guerra, produzia algodão, milho, feijão e algumas outras culturas agrícolas, sempre em processo de produção familiar, onde o serviço é realizado basicamente pelos membros da família e a colheita é usada prioritariamente para consumo.

Caminhante
Calçado é, para mim, também o local das férias de infância. Sempre tenho boas lembranças e me emociono quando estou aqui. A conversa com meu pai, na cidade onde ele se casou com minha mãe, faz parte do processo de enaltecimento de minha história familiar, que tem paralelos com tantas outras histórias familiares.


4º. Movimento
Viagem de Calçado a Caruaru.
05 - Estampa do sabonete Eucalol

Alegro
O quartel do exército, em Caruaru, é em um prédio antigo e bem no centro da cidade.
Por lá passaram vários veteranos da II Guerra Mundial.

Cantante
Caruaru é a cidade onde meu pai se alistou no Exército. Ele voltou, ná década de 1960, a morar praticamente no quartel, na Vila dos Sargentos, que era um anexo do quartel. Ele, com sete filhos, antes de ser reconhecido como veterano da FEB, e ser reformado, passou alguns anos fazendo serviços remunerados para o exército, no quartel de Caruaru.

Caminhante
Eu morei lá, na Vila dos Sargentos, durante alguns anos, antes de ir trabalhar e estudar no Recife, capital do Estado. Na vila, costumávamos cantar, eu e minhas irmãs, a canção “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, símbolo da resistência ao regime militar vigente no brasil a partir de 1964, e que durou praticamente três décadas.

A ditadura militar brasileira perseguiu, torturou e matou inúmeras pessoas. Famílias inteiras foram destroçadas nessa época sombria e de silêncio.
Essa passagem no quartel é simples e rápida...

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Créditos
As estampas Eucalol era um “card” que retratava a cultura brasileira e algumas vezes de outros países.
Começaram a ser emitidas em 1928, pela Perfumaria Myrta S/A, do Rio de Janeiro. Coloridas e em preto e branco acompanhavam o Sabonete Eucalol – três sabonetes em cada caixa com três estampas – e o Creme Dental Eucalol – uma estampa por tubo.

Com o Brasil entrando na Segunda Guerra Mundial houve uma série de Estampas Eucalol que retratava A História da FEB. Foram desenhadas por Willy von Paraski e impressas pela Gráfica F. Lanzarra – São Paulo -, Litográfica Rebizzi e Gráfica Mauá, ambas do Rio de Janeiro, e algumas outras menores.

Fonte: http://segundaguerra.org/feb-estampas-eucalol
ACESSO EM 04.05.2010

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