terça-feira, 29 de março de 2011

Nono Dia - 09 27.02.2011

Reconhecendo territórios


42 - Paisagem de inverno

1º. Movimento
Casa do moinho, em Randaragna.

Alegro
As vilas da Itália são rrepletas de casas de dois andares.

Muitas delas, nas comunidades menores, estão lá desde muito tempo antes da guerra. Algumas casas destruídas durante o conflito foram reconstruídas. Nessa casa, que chamo de “casa do moinho”, residem o homem e sua esposa.

Eu a batizei como “casa do moinho” porque na casa de meu pai, no Recife, Brasil, temos um moinho de pedra do mesmo modelo que agora encontro nesta casa, aqui na Itália. A diferença entre eles é somente que o de meu pai é bem menor e manual. Este é datado do ano de 1600 e movido por uma pequena queda d’água.


43 - Moinho de pedra

Cantante
Como a casa do moinho chega até a história do Brasil? Durante a guerra, um dos maiores problemas dos soldados brasileiros era enfrentar o frio do inverno e da primavera europeus. Em geral, os nossos soldados sentiam muito frio nos pés. O aquecimento dos pés, um ponto crucial para o aquecimento do resto do corpo foi uma das nossas maiores dificuldades.

Meu pai conta: “Para diminuir o frio nos pés, usávamos uma galocha americana por cima de nossas botinas. Um pé que calçava uma bota número 40, ficava, com a galocha, número 44”.

Muitos veteranos contam os problemas que tiveram para aquecer os pés.

Nesta casa, durante a guerra, o pracinha Miguel Pereira costumava pedir pra entrar e esquentar os pés na boca do forno que era usado para fazer o pão todos os dias. Observando as pessoas da “casa do moinho” eu percebo que na época do inverno e até as temperaturas se elevarem um pouco, na primavera, para quem vive nas partes mais frias do planeta, e trabalha com a terra, é tempo de descanso, reflexão e fortalecimento para reencontrar o trabalho árduo quando o plantio, os cuidados com a plantação e a colheita chegarem.

Durante a guerra, nesse período do ano nossos soldados estavam, em 1944-45, lutando para libertar o mundo do poderio nazi-fascista.

Caminhante
Somos bem recebidos ao visitar a “casa do moinho”.. A casa está à beira do rio que dá nome ao lugar.


2º. Movimento Visita ao Monte Castelo


44 - Descanso na subida do Monte Castelo
(Etampa do sabonete Eucalol)

Alegro
No Monte Castelo foi erguido o “Monumento Líberazione” em homenagem aos soldados brasielrios mortos e também um marco ao soldado desconhecido. Foi com grande orgulho que o povo italiano construiu vários monumentos sobre a participação brasileira na libertação da Itália.

Cantante
Foram necessárias três batalhas sangrentas para a conquista do monte castelo. Nessa série de ataques pereceram 88 soldados brasileiros. O monte coberto de neve, o frio, e os alemães entrincheirados no topo do monte lavou de sangue verde e amarelo a conquista do Monte Castelo Somente no dia 21 de fevereiro o Monte é finalmente conquistado.

Caminhante
Chego ao monumento do Monte Castelo em um dia em que está tudo coberto de neve. A brancura, a singeleza do monumento e a amplidão das montanhas ao fundo, tudo branco, dá uma sensação de paz enorme. Sinto como “isto está posto, é nosso!”. É muito árduo dizer isso depois de tantos jovens brasileiros perecerem neste lugar. É um sentimento de paz, somente isso... talvez, também, a paz dos mortos. Fico com vontade de gritar o nome de todos que ali pereceram.

Pretendo voltar aqui na primavera.

Um veterano declarou que os campos cobertos de neve pareciam campos de algodão.

É verdade.


45 - Monumento Libertazione - Monte Castelo

3º. Movimento 
Passagem por Abetaia

Alegro
Os caminhos da FEB são bem conhecidos por Mário Pereira que viveu sempre nesta área. (sobre esta família eu falarei outro.

Cantante
Em Abetaia encontramos um portão de ferro que está no mesmo local desde a II Guerra... Os tiroteios por ali deixaram várias marcas de balas no portão, tornando-o um registro vivo da história.

Caminhante
É, pára mim, surpreendente ver a história ali, viva. Acho que a importância da paz, com a libertação da Itália do domínio nazi-fascista, é enorme para o povo italiano, que conserva muitos marcos dessa história. dia).


46 - Furos de balas da II Guerra Mundial

O portão de ferro, repleto de furos, me dá arrepios.

Depois olho bem pelos buracos e começo a fotografar.

É sempre uma surpresa observar minhas emoções nesses momentos de enfrentamento com essa realidade que pode parecer distante mas está na minha pele e na de tantas outras pessoas.

4º. Movimento
Porretta Terme

Alegro
Um dos meus objetivos é visitar o casarão onde funcionou o Qualtel General de Mascarenhas de Moraes em Porretta Terme.

Cantante
O casarão onde funcionou o Quartel-General de Mascarenhas de Moraes em Porretta Terme, de 09 de novembro de 1944 até 16 de março de 1945. Dali ele determinava os movimentos das tropas brasileiras na Itália. O casarão já foi usado para um hotel. Hoje está fechado.

Caminhante
Eu pensei que o casarão ainda era um hotel e havia desejado me hospedar lá por alguns dias. Fiquei triste porque o hotel havia fechado Vou tentar entrar no casarão e escrever algo de lá de dentro... quem sabe mandar uma mensagem ao mundo. Acho que o casarão é uma das maiores casas da cidade.



47 - O predio do Quartel General de Mascarenhas de Moraes

5º. Movimento
Passagem por Montese

Alegro
Um dos veteranos de Montese é um chafariz que, apesar de alguns furos de bala, permanece lá, no mesmo lugar, até hoje, imponente, firme e forte... talvez seja, hoje, um dos veteranos mais imponentes, ali, jorrando água, cumprindo sua função de sempre.


48 - O chafariz veterano

Cantante
Montese foi conquistada pela FEB em 14 de abril de 1945. Em Montese está o largo Brasil, onde a população da cidade construiu um monumento oferecido aos brasileiros.


49 - Eu no Monumento aos soldados brasileiros, em Montese

6º. Movimento
Museu em Iola.

Alegro
Visitamos o Museu de Iola, administrado pela comunidade local. Na parte superior são conservados objetos da Ii Guerra.

Cantante
Neste museu estão roupas e objetos usados pelos nossos pracinhas. São guardados, além de algumas armas, vários maços de cigarros, o objeto de desejo de todos naquela época.

Caminhante
Vi a famosa Lurdinha. Perguntando a meu pai que Lurdinha era essa ele somente me deu uma risadinha insossa.

Eu descobri, e até mesmo a fotografei.


50 - A Lurdinha

Sobre a Lurdinha: Era a metralhadora alemã MG 34 a mais temida arma de guerra alemã. Os disparos dessa metralhadora eram comparados com uma gargalhada de uma mulher... e por isso, ela foi batizada pelos brasileiros de Lurdinha.

Neste museu encontro o livro de fotografias coloridas "Sulle orme dei nostri padri", do fotógrafo-soldado americano Cruz E. Rios e as câmeras por ele usadas durante a guerra.

Nossa!

Uma jóia preciosa!


51 - A câmera do soldado-fotógrafo
7º. Movimento
Visita ao Monumento de Pistóia.

Caminhante
Sobre este monumento eu escreverei em um outro dia.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Oitavo Dia - 26.02.2011

Do meio do mar a Pistóia

1º. Movimento
No mediterrâneo

Alegro
O navio está mais vazio do que o de minha viagem anterior. A tripulação também é meio sumida. São muitos caminhões e caminhoneiros nesse percurso.


Cantante
Durante a guerra o trajeto de Nápoles a Livorno era feito em embarcações menores, e não mais nos mesmos navios americanos que trouxeram os brasileiros do Rio de Janeiro.

Meu pai conta: ”Nesse percurso, de Nápoles a Livorno, o mar estava muito revolto. Vários pracinhas enjuaram muito. Daí colocaram um tonel para que vomitassem dentro... então, mesmo quem não estava enjoado vomitava somente por causa do cheiro de vômito”.


36 - Eu no navio para Livorno

Caminhante
Passo o dia entre olhar as águas do mar Mediterrâneo e fazer alguns trabalhos no computador. Lá fora está fazendo muito frio e somente consigo ficar no deck do navio por alguns minutos e tenho que entrar de novo... sendo assim carrego minha mochila o dia ineiro... vou e volto de dentro para fora do navio.. entre filmar, fazer umas fotos, ou somente olhar para o mar. É muito assustador ver tanta água ao nosso redor


37 - Primeira visão do porto de Livorno

2º. Movimento
Chegada a Livorno

38 e 39 - O céu e a água do mar Mediterrâneo em Livorno

Alegro
O porto é enorme e movimentado. Conteiners com mercadorias estão por toda parte. A chegada do navio é comemorada por muitas gaivotas que fazem a maior festa. Meu pai somente desembarcou neste porto. Ele diz: “ao desembarcarmos em Livorno fomos diretamente, de caminhão, para Stafoli”.

Cantante
Neste porto chegaram os cinco escalões da FEB, entre 1944 e 1945, depois de longos dias e noites de viagem, em tempos de guerra, do Brasil até a Itália.

Caminhante

40 - Por do sol no porto de Livorno

Fico muito emocionada vendo as gaivotas em volta do navio no porto de Livorno... é, realmente, o sinal de que a terra, o solo firme, estão próximos.

Passei uma noite e um dia viajando de Palermo até aqui.

Fico vivenciando a chegada de meu pai, depois daquela viagem tão desconfortável e insegura... ao contrário da minha, onde há ar-condicionado, aquecimento, cama confortável e cobertas quentinhas... e, lá fora, reina a paz. Sinto-me muito feliz de estar aqui neste momento.



41-Terra fime

3º. Movimento
Viagem de Livorno a Pistoia.

Alegro
Mario Pereira chegou sorridente e de braços abertos para me apanhar no porto de Livorno.

Cantante
Stafolli foi a primeira noite em terra firme para os pracinhas que chegaram à Itália durante a guerra no 5º. Escalão, no dia 28 de fevereiro de 1945.

Caminhante
Fico muito feliz ao ver Mario Pereira. Ele me leva para o hotel “Arco Baleno” (Arco-iris), que fica na montanha, em Sammomme, na área de Pistóia.. O caminho até lá em cima é muito estreito e cheio de curvas... as árvores estão todas nuas, esperando os primeiros sinais da primavera para começar a época da folhagem.

Sétimo Dia - 25.02.2011

Palermo

1º. Movimento
Nápoles-Palermo.

Caminhante
A minha primeira viagem de navio está muito boa. Eu estou sozinha numa cabine. A cama balançou a noite inteira, mas eu dormi bastante, e estou bem disposta. Com tantos caminhões carregados que vi entrar neste navio e com tanto mar abaixo de minha cama, busquei não pensar nesses assuntos.

2º. Movimento
Hotel para uma meia diária.

Alegro
O hotel que encontro é bem em frente do porto de Palermo, o que vai facilitar minha chegada ao navio que me levará a Livorno. Sairei daqui hoje à noite.

Cantante
Palermo é uma cidade grande, com cerca de 800 mil habitantes, repleta de construções muito antigas, castelos medievais, praças belíssimas. Guarda muitas histórias de reis e rainhas decapitados, e de eventos relacionados com a Santa Inquisição.Tem uma grande movimentação turística, por ser a maior cidade da Sicília. Esta é uma das cidades italianas que foram muito bombardeadas durante a II Guerra Mundial.

Caminhante
É muito bom estar no hotel, pois tomei banho, descansei um pouco, deixei a bagagem e agora ando de ônibus turístico pois está muito frio e chovendo. Ao final do dia, volto para o hotel e me preparo para a nova viagem de navio.

3º. Movimento
Embarque de Palermo a Livorno

36 - Meu percurso
Alegro
Os navios são sempre enormes e um número muito alto de caminhões e caminhoneiros embarcam neste percurso.

Caminhante
Agora com uma romena e uma italiana na cabine a viagem é bem menos confortável, pois fico preocupada com a segurança na viagem (coisa de brasileiro). As duas meninas não falam inglês e nos comunicamos o mínimo possível. Pela manhã vou colocar a mochila nas costas, com computador, câmera de vídeo e de fotografia, e passar o dia fotografando a viagem, pois somente chegarei a Livorno amanhã à noite.







Obs.: Meu objetivo é fazer o percuro de Nápoles a Livorno por mar, como a FEB fez em 1944 e 1945



domingo, 27 de março de 2011

Sexto Dia - 24.02.2011

Nápoles 


1º. Movimento
Visita à catedral de Nápoles

31 - Vista parcial da catedral de Nápoles
32 - Eu em fente à catedral de Nápoles

Alegro
Nápoles foi um das cidades por onde meu pai passou o final da guerra, em seu retorno para o Brasil, e por isso resolvi visitar essa igreja.

Cantante
A igreja católica, através da Santa Inquisição, foi uma das grandes genocidas da historia da humanidade, tendo perseguido, queimado, enforcado, os não-cristãos, as mulheres consideradas bruxas, os ciganos, além de qualquer pessoa ou família que se atravessasse no caminho de seus interesses econômicos e religiosos.

Caminhante
A catedral é imponente. É estreita e tem um pé direito muito alto. Esculturas de papas estão em cada uma de suas colunas. Eu me sinto oprimida neste lugar, apesar de estar aqui por mais de uma hora somente observando as coisas. É um tempo de reflexão e de descanso físico, mas não de descanso psicológico.

33 - Duas vistas do interior da catedral

2º. Movimento Intra-urgente

Alegro
As pessoas parecem meio iguais. Todo mundo usa agasalhos quase sempre pretos. Cantante Vivem em Nápoles praticamente um milhão de pessoas. A cidade tem uma alta taxa de pobreza. O centro da cidade é repleto de grandes lojas. As liquidações estão por toda parte pelo fato de já estarmos no final do inverno e início da primavera.

Caminhante
Passo horas andando e andando, tentando encontrar um casaco que seja quente, para me aquecer nas minhas viagens aqui na Itália, na Polônia e na Holanda. Por me recusar a comprar um casaco preto minha pesquisa dura horas. Fico feliz por encontrar um casaco Vermelho lindo, que me serve muito bem.

3º. Movimento

A caminho de Palermo Alegro Por que Palermo? Há de se perguntar! Essa foi a única forma possível de viajar por mar até Livorno, já que nesta época do ano não existem viagens marítimas de passageiros ligando essas duas cidades.

34 - Águas do mar Mediterrâneo, no porto de Nápoles

Cantante
Os portos da Itália são muito usados para transporte de mercadorias. Os caminhoneiros, com seus caminhões enormes, embarcam de um porto a outro deste país, transportando as mercadorias... quem dera no Brasil tivéssemos o mesmo sistema!


35 - Vista do porto de Nápoles

Caminhante
No porto de Nápoles, nesta época do ano, não funciona o abrigo para passageiros... o que torna a espera pelo Ferri boat quase insuportável. O frio está intenso, eu não tenho com quem nem onde deixar a bagagem sequer para ir ao banheiro, o navio está atrasado... a espera é muito longa. Há, no porto, umas 50 pessoas quase morrendo de frio. As que vão embarcar com seus carros estão dentro deles, aquecidas.

As que, como eu, viajam sem carro... bem, ... Já é praticamente meia noite. Finalmente, vamos conseguir iniciar nossa viagem. Vou descer mais no mapa da Itália para de lá conseguir pegar o navio para Livorno, depois de viajar a noite inteira, mas tudo bem. Palermo é uma cidade que está localizada na Sicília.

Quinto Dia - 23.02.2011

Nápoles-Pompéia


1º. Movimento

25 - O Monte Vesúvio. 1º Movimento Viagem de trem a Pompéia


26 - Vistas gerais de Pompéia

Alegro
Meu pai fez mil recomendações para que eu visitasse Pompéia, e disse: “não deixe de ver as pedras do calçamento da ruas! É incrível um calçamento tão antigo e perfeito como aquele!” Ele visitou  Pompéia após o final da guerra.


27-Detalhes

Cantante
Pompéia é a cidade do Império Romano que foi soterrada pelas lavas e cinzas do vulcão Vesúvio em agosto de 79 d.C. A cidade ficou soterrada por 1600 anos antes de ser redescoberta. Tudo que estava na cidade, no momento da erupção do vulcão, está no mesmo lugar. As pessoas ficaram “mumificadas” pelas lavas, na posição em que elas estavam. Com a transformação da cidade em sítio de visitação turística, as pessoas foram retiradas dos locais onde elas morreram. Hoje a cidade é considerada Patrimônio Histórico da Humanidade.


28-Utilitários

Caminhante
Minha viagem de trem foi rápida e confortável. São cerca de 16km que são percorridos em menos de meia hora. A nova Pompéia é uma cidade bonita e muito charmosa. A antiga Pompéia também... parece que tudo estava no lugar certo. As ruas bem organizadas, as casas ou negócios, tudo em construção de pedra, com formação invejável para qualquer construtor ou planejador urbano.. Por todos os lados podemos ver o que restou de pinturas nas paredes e algumas esculturas... o mobiliário e objetos utilitários da época... incrível!


29 - Pompéia arte (murais)

Sim, o calçamento está aquí, perfeito! Essa é minha primeira visita a um sítio arqueológico dessa natureza. O dia está chuvoso e cinzento. Talvez eu retorne por aqui. Que dia inesquecível!

30 - Calçamento da cidade de Pompéia

sábado, 26 de março de 2011

Quarto Dia - 22.02.2011

Espanha – Itália

1º. Movimento
Madri a Nápoles

Alegro
Meu pai, tendo viajado de navio do Rio de Janeiro até Nápoles, não fez o mesmo percurso que agora faço de avião.

Cantante
Exceto os comandantes, algumas enfermeiras e o pessoal da FAB (Força Aérea Brasileira), os cinco escalões da FEB, totalizando 25.334 pracinhas, fizeram a viagem Brasil-Itália, por mar, partindo do porto do Rio de Janeiro até o porto de Nápoles, nos navios cargueiros americanos General Mann e General Meigs.

O quinto escalão de embarque, com o qual meu pai, Gastão Veloso de Melo viajou, saiu do Rio de Janeiro no dia 08 de fevereiro, no navio General Meigs e chegou a Nápoles no dia 22 de fevereiro de 1945, gastando praticamente 14 dias para fazer o percurso. Neste escalão viajaram 5;082 pessoas.


21-Navio General Meigs
(foto encontrada em panzermodel.com)

Meu pai conta: “Em uma parte da viagem soou o alarme de ataque por submarino e ficamos esperando ordem para abandonarmos o navio“.

Atualmente somente navios mercantes e navios de cruzeiros fazem esse percurso. Os navios da marinha mercante são difíceis de conseguir para um passageiro com data marcada para chegar, como é o meu caso. Os navios de cruzeiros geralmente viajam em época de verão na Europa e fazem muitas paradas nos pontos turísticos mais importantes.

22 - Desembarque da FEB em Nápoles
(estampa do sabonete Eucalol)

Caminhante
Minha tarefa mais importante neste momento é ir para o começo da nova etapa da viagem, para de lá partir no caminho que meu pai fez, até Livorno. Estou fazendo uma volta enorme, que ele não fez somente por causa da impossibilidade de viajar de navio, diretamente do Rio de Janeiro até Nápoles.

Nessa etapa de minha viagem vou a Pompéia e também conhecer Nápoles, que foram alguns lugares onde meu pai esteve após o final da guerra.

2º. Movimento
Do aeroporto de Nápoles ao centro da cidade.

Alegro
Meu pai diz: “de Nápoles, o 5º. Escalão viajou de barcaça para Livorno, que é o porto mais próximo do teatro de operações da FEB na Itália. Mediante a urgência que tínhamos de chegar, não nos demoramos em Nápoles.”

Cantante
Nápoles foi amplamente bombardeada durante a guerra, certamente pela posição estratégica de seu porto, e por causa da importância econômica da cidade em relação ao restante do país e à toda a Europa. Alguns veteranos contam que ao chegarem aqui no porto encontraram navios revirados e uma grande destruição na cidade.

Caminhante
Finalmente chegando a Nápoles, pego um ônibus para a praça Garibaldi, onde fica o hotel Cavour, um prédio construído a cerca de 150 anos, onde ficarei hospedada por dois dias.


23 - Fachada do Hotel Cavour, Nápoles

A praça Garibaldi é belíssima, mas atualmente está entrecortada por uma pista para carros, e com tapumes por todos os lados. Suponho que seja para impedir que os pedestres atravessem nos locais destinados aos carros. Aqui, em geral, os carros param para os pedestres.

Esta praça é hoje um grande “camelòdromo”. Pessoas de muitas nacionalidades, especialmente as africanas, vendem produtos chineses de toda ordem. É um triste quadro da realidade econômica mundial e da qualidade de vida dos povos menos favorecidos.

Estou feliz por chegar a Nápoles no dia em que meu pai, há 66 anos chegou. Esse foi um dos planejamentos de meu projeto, e aqui estou!

Informações sobre a Itália:

24 - Mapa da Itália

República da Itália
Capital – Roma.
Área – 301.338 km2.
População – 60.1 milhões de pessoas
(atualmente com a menor taxa de natalidade da Europa).
Expectativa de vida – homens 79 anos, mulheres 85 anos.
Exportação – Máquinas, equipamentos para transportes, químicos, roupas e vinhos.
Moeda – Euro.

Fonte: http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/country_profiles/1065345.stm
Acesso em 25.03.2011.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Terceiro Dia - 21.02.2011

Belo Horizonte – Brasil

1º. Movimento
Ao aeroporto de Confins (uma viagem).

Alegro
Jorge Dissonância me acompanha até o aeroporto.

Cantante

17-Hall do aeroporto de Confins.
(net foto)

O aeroporto Internacional Tancredo Neves em Confins, localiza-se a quarenta quilômetros do centro da cidade de Belo Horizonte. Foi inaugurado em 1984, mas passou mais de uma década praticamente como um “elefante branco”, e somente mais tarde foi reconhecida a sua importância no cenário aeroviário brasileiro. É o maior aeroporto de Minas Gerais.

Caminhante
Ontem, eu e alguns amigos almoçamos juntos para a minha despedida antes dessa longa viagem.


A companhia esteve ótima. A gora estou no aeroporto de Confins, o primeiro aeroporto de tantos outros que virão... e serão praticamente três meses muito solitários.


2º. Movimento
De Confins a Guarulhos.

20 - Nos céus de Minas Gerais

Cantante
O stress me invade. As interrogações são inúmeras e me cercam por todos os lados. Sei que esse não vai ser um projeto de fácil execução.


3º. Movimento
De São Paulo a Madri.

Alegro
São muitos os vôos diários que ligam o Brasil à Europa. A grande maioria parte do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Esse aeroporto é um inferninho... cheio demais e muito confuso.

Cantante
Viajo de um hemisfério da terra a outro.
A Linha do Equador é uma linha imaginária que divide o planeta terra em hemisfério norte e hemisfério sul. É importante observar como são diferentes os países que estão acima e abaixo dessa linha. Historicamente a maioria dos países do hemisfério norte sempre usurpou as riquezas, a força de trabalho e a energia dos povos do hemisfério sul. Basta estudar a história da Europa e dos Estados Unidos da América do Norte em comparação à história dos países da África e da América do Sul, para conhecer bem os fatos.

Agora, a crise econômica que assola o hemisfério norte tornou-se algo sem paralelo na história do capitalismo mundial. Quem sabe, algo novo surgirá nesse processo de globalização.

Caminhante
A única coisa da qual eu gosto aqui em Guarulhos é poder ouvir muitas línguas diferentes. Isso me dá a sensação de estar no lugar certo.

A aeronave parece inferior se a comparo com outros vôos internacionais que já fiz, com outras companhias aéreas. Inicio a viagem cansada, com sono e com vontade de comer algo bem bom.
Pura ilusão.

Não descanso não como bem e não consigo dormir, apesar de ter duas poltronas, dois cobertores e dois travesseiros somente para mim. Viro de lado, de posição na poltrona, sento, deito e não dou um cochilo...
Não sei, exatamente, quando eu por ar, cruzo a linha do equador, mas fico pensando lá em baixo, nas águas do oceano atlântico. Gostaria de estar viajando por mar, como meu pai fez durante a guerra, mas isso não foi possível.

Fico rezando ao deus Netuno e à deusa Iemanjá para que eles deixem a aeronave bem longe das águas.

Algumas vezes o medo me invade e mudo o foco do meu pensamento para não pensar nas profundezas do oceano.

Obs.: Até aqui, agradeço a Jorge Dissonância, Ricardo e Rosy Soares e Waldemar Euzébio.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Segundo dia - 08.02.2011

Rio de Janeiro – Brasil


06-A cobra fumou


1º. Movimento
Aeroporto de Confins, Belo Horizonte – aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

Caminhante
A idéia dessa viagem é comemorar o dia da partida de meu pai para a Itália, no 5º, Escalão da FEB..

2º. Movimento
Estação Central do Brasil – Vila Militar
07 - Estação Central do Brasil em 1899
Fotografia sem crédito, encontrada na intenet.



Alegro
Meu pai, como tantos outros soldados, viajou do centro da cidade do Rio de janeiro para a Vila Militar no trem da Central do Brasil. Na Vila Militar os pracinhas passaram por alguns treinamentos antes de embarcar para a Itália.

Cantante
A estação Central do Brasil até hoje funciona com várias linhas de trem de subúrbio, transportando diariamente milhares de pessoas. Em algumas linhas são necessárias quase duas horas para se chegar ao destino.

O primeiro prédio da Central do Brasil é de 1858. Em 1943, durante o Estado Novo, é a vez da nova estação, com o famoso relógio inspirado no movimento artístico art deco.

Caminhante
Faço uma viagem horrível nesse trem... que é muito desconfortável... e para completar estou apreensiva por não saber onde é minha estação de parada e nem como será, levando em conta os problemas de violência do Brasil.

Ao chegar na Vila Militar sou bem recebida. Fotografo o prédio do Regimento Sampaio, onde meu pai esteve, os alojamentos da tropa e a estátua de Nossa Senhora Aparecida, que foi e voltou da Itália com a FEB.



11- Imagem de Nossa Senhora
Aparecida que foi e voltou da
Itália com a FEB

3º. Movimento
Da Vila Militar ao cais do porto do Rio de Janeiro.

Alegro
Encontro com Januário Garcia, fotógrafo e meu amigo. Vamos juntos ao cais do porto do Rio de Janeiro.

Cantante
Foi das proximidades de onde hoje estão os portões 12 e 13, que embarcou a Força Expedicionária Brasileira, em cinco escalões, entre 1944 e 1945, nos navios cargueiros americanos General Mann e General Meigs, rumo ao porto de Nápolis, na Itália.

De Nápolis nossos pracinhas foram em outra embarcação até o porto de Livorno e dali, em caminhões até o teatro de operações de guerra. Foram para a Itália, no exército brasileiro, praticamente 25.000 militares, homens e algumas mulheres (enfermeiras). Muitos relatam as péssimas condições da viagem, o calor quase insuportável e o medo durante a travessia do Atlântico e do mar Mediterrâneo.
Entre 1941 e 1944 foram afundadas, na costra brasileira, 36 embarcações, causando a morte de quase mil civis.

Devido aos afundamentos de nossas embarcações e por causa do estado de guerra a viagem era sigilosa e durante as noites o navio permanecia em blackout, (no escuro) para não ser detectado pelos inimigos.
Momentos de descontração aconteciam durante a viagem. Um deles era ao cruzarem a linha do equador, quando realizavam a Cerimônia do Rei Netuno (rei dos mares): um batismo para a pessoas que cruzavam a linha do equador pela primeira vez.

Juntamente com a FEB embarcaram vários jornalistas que acompanharam as movimentações brasileiras no front, entre eles Rubem Braga.

Caminhante
Compro rosas brancas (para mim símbolo da paz) e as jogo, uma a uma, ao mar em homenagem aos pracinhas que dali embarcaram para a Itália, e ao heroísmo de todos eles. É também uma oferta a Iemanjá (rainha das águas) por ter levado e trazido de volta o meu pai além de tantos outros.
Meu amigo me filma jogando as flores brancas ao mar.

4º. Movimento
Monumento aos Heróis Brasileiros da II Guerra Mundial.


Alegro
O monumento, que está localizado no Aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurado em 1960, fundamentalmente para abrigar os ossos dos soldados brasileiros mortos durante a guerra na Itália.

O complexo arquitetônico é composto de: edícola, homenagem ao soldado desconhecido, museu da FEB, e mausoléu dos brasileiros mortos.

Cantante
Durante a guerra, na Itália, faleceram 467 brasileiros.
Primeiramente os mortos foram enterrados no semitério de Pistoia, na Itália.

Caminhante
Somente ao chegar ao monumento descubro que o mesmo está em obras e não consigo visitar o museu e somente entro no mausoléu após uma conversa sobre meu projeto com o diretor do monumento. Ele é muito simpático e até manda um abraço para meu pai.

Aqui no mausoléu sinto um gelo na espinha... fico observando essas lápides, todas alinhadas
juntas umas às outras.

14 - Musoléu dos pracinhas brasileiros mortos na campanha da Itália

Há uma luz de final de tarde entrando no espaço, que me parece muito triste.
Reflito sobre os significados das guerras.


15-Paz

5º. Movimento
Do Rio de Janeiro a Belo Horizonte.

Caminhante
A viagem de volta, no final da tarde do mesmo dia em que eu saí de Belo Horizonte, é cansativa e estou muito reflexiva. Esse é, ma verdade, o início de novos percursos solitários de meu projeto. Serão, ainda, muitos voos, aeroportos, trens etc.

16 -Voando de volta para Belo Horizonte

Primeiro Dia - 01.02.2011

A partir de hoje, vou postar, sempre que possível, o diário de minha jornada referente aos caminhos que meu pai, Gastão Veloso de Melo, fez durante a II Guerra Mundial, além de alguns flashbacks e outros assuntos relacionados. É importante salientar que este diário está sendo construído dentro da cronologia do meu projeto, e não na cronologia da história do Brasil.


Adicionar legenda

1º. Movimento

Viagem com meu pai, Gastão Veloso de Melo, veterano da Força Expedicionária Brasileira - FEB, do Recife a Tamandaré.

02 - O caminho de pedras para o Farol



03-Gastão Veloso de Melo,
no farol de Tamandaré

Alegro
Meu pai patrulhou o litoral sul de Pernambuco, em Tamandaré.
Chegamos ao forte de Tamandaré, observamos o farol, dentro do Forte, lá bem no alto. Meu pai, então, caminha na direção do farol, sobre o caminho de pedras e reconhece o local. Fica com os olhinhos cheios de lágrimas... e fala: “era por aqui que eu caminhava, nessas pedras, pra ir lá pra cima e subir no farol para patrulhar a praia!”

Cantante
Soldados brasileiros patrulharam nosso litoral e o oceano Atlântico, especialmente por causa dos afundamentos de embarcações brasileiras e da ameaça de invasão pelos países do Eixo, (Alemanha, Itália e Japão), no período que antecedeu a entrada do Brasil na II Guerra Mundial e também durante o conflito.

O litoral nordestino, por causa de sua posição geográfica estratégica (sua proximidade com o noroeste da África e com a Europa) foi alvo de disputa. As aeronaves da época não tinham autonomia de vôo e necessitavam de um ponto de apoio e reabastecimento.

Apesar do ditador brasileiro Getúlio Vargas ser simpático à causa nazista, e manter acordos econômicos (especialmente a troca de bens de consumo brasileiros por material bélico alemão) com o governo Hitlerista, movimentos estratégicos dos Estados Unidos da América do Norte, levaram o Brasil a entrar na guerra. Com a entrada do Brasil na guerra, ao lado dos aliados (EUA, Reino Unido, União Soviética) a base aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, foi usada como ponto estratégico,

Caminhante
Observo meu pai com os olhos cheios de água, e fico muito emocionada com a emoção dele, e também por ser possível lhe propiciar essa experiência e por eu conseguir registrar esses momentos.

A passos lentos, e com a cabeça repleta de cabelos brancos e de lembranças, ele anda, passo a passo, até ao pé do farol e me mostra, com orgulho, a parte mais alta do farol onde ele ficava. Mostra-me também a praia e os canhões do forte.

Considero que a época de patrulhamento em Tamandaré foi importamte para ele.


2º. Movimento
Viagem de Tamandaré até Fazenda Nova, em Lajedo.


04-  Eu e meu pai na frente da casa onde ele nasceu

Alegro
A relação do homem jovem com sua pátria, nas décadas de 1930 e 1940, era permeada de patriotismo. Esse foi o caso de meu pai. Hoje algum sentimento patriótico é imperceptível na juventude brasileira.
Na época em que se alistou, meu pai precisou de uma autorização dos pais para servir no exército porque ainda não havia completado 18 anos, e por ele viver em zona agrícola, o serviço militar não lhe era obrigatório.

Cantante
A tentativa hitlerista de dominar o mundo, eliminando todos os povos não-arianos durou, na Europa, mais de uma década antes que fosse deflagrada a II Guerra Mundial.
Em 1942, quando meu pai se alistou, o mundo já estava em guerra.

Caminhante
Voltar à casa de meu avô, agora com o intuito de conversar com meu pai sobre parte da história de sua vida, e em especial sobre sua ida para a guerra é parte importante no meu processo criativo baseado nas realidades das famílias envolvidas em processos de guerras.


3º. Movimento
Viagem de Fazenda Nova a Calçado.

Alegro
Calçado foi o primeiro lugar que meu pai foi, ao retornar da guerra, para encontrar sua namorada, Enedina Alves de Melo. Chegou no dia 20 de outubro de 1945 e de lá pegaram um sanfoneiro e foram de carro-de-bois para Fazenda Nova, a casa dos pais dele, para a comemoração do seu retorno da Itália.
Foi também a cidade onde meu pai se casou com minha mãe.

Cantante
O sítio de origem de meu pai é parte do agreste pernambucano, área agrícula, que na época da II Guerra, produzia algodão, milho, feijão e algumas outras culturas agrícolas, sempre em processo de produção familiar, onde o serviço é realizado basicamente pelos membros da família e a colheita é usada prioritariamente para consumo.

Caminhante
Calçado é, para mim, também o local das férias de infância. Sempre tenho boas lembranças e me emociono quando estou aqui. A conversa com meu pai, na cidade onde ele se casou com minha mãe, faz parte do processo de enaltecimento de minha história familiar, que tem paralelos com tantas outras histórias familiares.


4º. Movimento
Viagem de Calçado a Caruaru.
05 - Estampa do sabonete Eucalol

Alegro
O quartel do exército, em Caruaru, é em um prédio antigo e bem no centro da cidade.
Por lá passaram vários veteranos da II Guerra Mundial.

Cantante
Caruaru é a cidade onde meu pai se alistou no Exército. Ele voltou, ná década de 1960, a morar praticamente no quartel, na Vila dos Sargentos, que era um anexo do quartel. Ele, com sete filhos, antes de ser reconhecido como veterano da FEB, e ser reformado, passou alguns anos fazendo serviços remunerados para o exército, no quartel de Caruaru.

Caminhante
Eu morei lá, na Vila dos Sargentos, durante alguns anos, antes de ir trabalhar e estudar no Recife, capital do Estado. Na vila, costumávamos cantar, eu e minhas irmãs, a canção “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, símbolo da resistência ao regime militar vigente no brasil a partir de 1964, e que durou praticamente três décadas.

A ditadura militar brasileira perseguiu, torturou e matou inúmeras pessoas. Famílias inteiras foram destroçadas nessa época sombria e de silêncio.
Essa passagem no quartel é simples e rápida...

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Créditos
As estampas Eucalol era um “card” que retratava a cultura brasileira e algumas vezes de outros países.
Começaram a ser emitidas em 1928, pela Perfumaria Myrta S/A, do Rio de Janeiro. Coloridas e em preto e branco acompanhavam o Sabonete Eucalol – três sabonetes em cada caixa com três estampas – e o Creme Dental Eucalol – uma estampa por tubo.

Com o Brasil entrando na Segunda Guerra Mundial houve uma série de Estampas Eucalol que retratava A História da FEB. Foram desenhadas por Willy von Paraski e impressas pela Gráfica F. Lanzarra – São Paulo -, Litográfica Rebizzi e Gráfica Mauá, ambas do Rio de Janeiro, e algumas outras menores.

Fonte: http://segundaguerra.org/feb-estampas-eucalol
ACESSO EM 04.05.2010

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carta aos veteranos da FEB

Esta carta foi entregue, com o nome de cada um, aos veteranos presentes ao Encontro Nacional dos Veteranos da FEB, em Jaraguá do Sul, SC. Em movembro de 2010.

Por este meio de comunicação eu envio esta carta a meu pai.

Belo Horizonte, novembro de 2010.

Ao Ilustre Veterano da Força Expedicionária Brasileira, Sr. Gastão Veloso de Melo.
¬¬
Em guarani, ñé, significa "palavra " e também significa "alma".
Crêem os índios guaranis que os que mentem a palavra, ou a dilapidam, são traidores da alma. (Janela sobre a palavra 11I- Eduardo Galeano)

A PALAVRA FOI DADA, A COBRA FUMOU!

Escrevo-lhe esta carta porque tenho uma porção de palavras pedindo saída da minha garganta. Não escrevi esta carta 65 anos atrás, porque somente posso lhes escrever hoje em conseqüência de Gastão Veloso de Melo, meu pai, como o senhor, ter voltado da II Guerra Mundial, e entre tantas outras coisas, ter me feito, juntamente com minha mãe.
Escrevo somente agora, também porque estou “grávida de palavras” que nunca foram por mim ditas, de ações e imagens, a respeito de nossa história, que preciso colocar em público.
Sei que muitos de vocês receberam poucas ou nenhuma carta durante a II guerra Mundial, na campanha da FEB na Itália, e talvez esta seja outra das razoes pelas quais eu agora lhes escrevo.
Gostaria de ser poeta para dizer, em formato de poesia, do tamanho de minha admiração e respeito por cada um que participou dessa luta.
Imagino a relevância das experiências que são guardadas por todos que estiveram nessa luta pela liberdade e diversidade.
Do fundo de minha alma, escrevo simplesmente para dar-lhe as felicitações, e dizer do meu profundo carinho e respeito.
Sou artista plástica e fotógrafa. Estou desenvolvendo o projeto “Redescobrindo os caminhos de meu pai”, que também é redescobrir o caminho de todos vocês.
Neste projeto, entre outras coisas, farei uma viagem à Itália e irei aos lugares por onde meu pai passou, e que vocês passaram, durante a Guerra e no Pós-guerra, cooperando para a manutenção da paz.
O principal propósito do projeto é celebrar a vida. Celebremos a vida!
Com imensa alegria, conclamo os Veteranos da FEB a compartilhar essa jornada.
PS.: Esta carta está sendo enviada para todos os veteranos que estão hoje vivos. Se possível, me responda esta carta, ou peça a alguém que tenha um endereço de e.mail., que entre em contato comigo, que lhe manterei informado desse projeto.
Um forte abraço,

Eliane Velozo elianevelozo@terra.com.br