sábado, 16 de abril de 2011


Décimo quinto dia - 18.03.2011

Auschwitz

94-Vistas de Auschwitz


Alegro
Atualmente é muito fácil chegar até Auschwitz. Existem ônibus que saem de Cracóvia a cada meia hora.
Os hotéis e pousadas também oferecem transporte com visita guiada. (Ver quadro de número de visitantes por ano em minha postagem do décimo quarto dia).
Ontem eu vim aqui com um grupo. Hoje vim sozinha, de ônibus.


95-Crematório e Cerca

Cantante
É impossível determinar o número de pessoas que chegaram, de trem, a Auschwitz e foram levadas, diretamente, para as câmaras de gás. Passageiros de inúmeros trens, lotados com crianças, idosos e debilitados, seguiram imediatamente para as câmaras de gás ao chegarem a este campo de extermínio.



96-Aviso

97-Detalhes da cerca eletrificada

98-Fuzíveis

99-Fotografias de preisioneiros. Memorial de Auschwitz

Também estiveram em Auschwitz, além de judeus de muitos países e outras “minorias”:
7.500 judeus italianos.
60.000 judeus holandeses.

As péssimas condições de higiene, o trabalho forçado por muitas horas seguidas e o terror constante eram também causas para o enfraquecimento físico e psicológico dos prisioneiros.

Entre 1942 e 1944 os nazistas construíram 50 sub-campos, formando o network do terror e da morte.

Os portões de Auschwitz foram abertos pelo exército russo no dia
27 de janeiro de 1945.

Com o aperto do cerco dos aliados, os nazistas haviam evacuaram para outros campos uma grande quantidade de prisioneiros, deixando para trás os fracos, doentes e feridos.

Foram encontrados no campo, atém de 600 corpos de prisioneiros:
9000 prisioneiros
850 mil vestidos
350 mil ternos
8 toneladas de cabelos.
100-Maletas em Auschwitz

101-Sapatos em Auschwitz

Caminhante
Acredito que para se falar de paz, o oposto, em linha direta, da guerra, é preciso que se conheça Auschwitz;
Aqui é a essência da crueldade do século XX. A vergonha das vergonhas do ser humano... esse estranho animal.
A compreensão disto aqui extrapola o racional, os parâmetros possíveis para uma espécie dita humana.
Os campos nazistas de concentração e extermínio fizeram parte de uma organização pensada, palmo a palmo, para tornar possíveis todos os detalhes mais sutis da maldade do ser humano na face da terra.
Nenhuma língua será capaz de expressar, realmente, o que foi Auschwitz para os que aqui viveram pelo menos um dia de suas vidas.
Nada que eu possa escrever será minimamente suficiente.


2º. Movimento
Histórias pessoais
102-Simplesmente janelas?

Alegro
Existem histórias sobre fuga, amor e cooperação em Auschwitz.

Cantante
Historia 1
“Ex-prisioneiro conta como fugiu de Auschwitz
Há exatos 66 anos, um jovem polonês católico fez algo que até hoje parece ser impossível de ter sido realizado: escapou do campo de concentração nazista de Auschiwitz, são e salvo, com a sua namorada. No dia 21 de julho de 1944, Jerzy Bielecki passou pelo guarda alemão ao lado de sua namorada, Cyla Cybulska. Após mirar o passe falso e observar os dois por um período que pareceu uma eternidade, a sentinela deixou-os passar apenas falando ‘Ja, danke’ (Sim, obrigado).
Bielecki e Cybulska se conheceram no próprio campo de concentração. Ele, um católico polonês fluente em alemão de 23 anos, tinha uma posição privilegiada entre os prisioneiros. Ela, uma jovem judia de 22 anos, estava condenada à morte. O primeiro encontro de ambos aconteceu em setembro de 1943, em um depósito de grãos, onde os dois recentemente tinham sido transferidos para trabalhar. Cybulska entrou no depósito acompanhada de um grupo de mulheres. ‘Pareceu-me que uma delas, uma bonita de cabelo preto, tinha piscado para mim’, recorda Bielecki. Eles ficaram amigos e logo a amizade se transformou em romance.
Em suas memórias de Auschwitz, escritas em 1983, Cybulska diz que nos encontros eles contavam um ao outro suas histórias de vida e que ‘todo encontro era um evento realmente importantes para nós dois’. ‘Era um grande amor’, disse Bielecki, 89 anos, em entrevista à agência AP realizada em sua casa, localizada a apenas 85 km de Auschwitz. ‘Nós fazíamos planos de nos casarmos e de vivermos juntos para sempre ‘. Ela tinha sido presa em 1940, então com 19 anos, ao lado de seus pais e irmãos. Em setembro de 1943, Cybulska era a única viva. O irremediável destino fatal fez eles apressarem os planos de fuga.
De um colega preso polonês, Bielecki conseguiu secretamente um uniforme da SS (tropa de elite nazista) completo e um passe. Usando uma borracha e uma caneta, ele mudou o último nome do passe de Rottenfuehrer Helmut Stehler para Steiner, para o caso da sentinela conhecer o verdadeiro Stehler, e o registrou para dizer que estava levando uma prisioneira para interrogação em uma estação policial próxima. ‘Amanhã, um homem da SS vai vir para levar você para um interrogatório. Esse homem será eu’, disse Bielecki à sua namorada. Na tarde seguinte, vestido com o uniforme roubado, ele foi até a lavanderia para a qual Cybulska tinha sido transferida para trabalhar. Suando de medo, ele exigiu ao supervisor alemão que liberasse a mulher. Eles então rumaram ao portão principal, onde entregaram o passe e deixaram Auschwitz. ‘Eu senti dor na minha espinha, onde eu esperava ser atingido’, conta Bielecki. Contudo, após alguns metros, eles olharam para trás e viram a sentinela em sua cabine.
Os dois marcharam por nove dias, cruzando florestas e rios. Em um ponto, extremamente cansada, Cybulska chegou a pedir para ser deixada. ‘Jurek não quis ouvir e continuou repetindo: 'nós fugimos juntos e vamos caminhar juntos', diz uma memória dela registrada em um livro escrito por Bielecki. Após a nona noite, eles chegaram à casa de um tio dele, em um vilarejo próximo a Cracóvia. Para evitar ser presa novamente por soldados nazistas, Cybulska foi escondida em uma fazenda, enquanto ele decidiu se esconder em Cracóvia. Após o exército soviético tomar a Polônia, em janeiro de 1945, Bielecki retornou para encontrar a namorada, mas ela já tinha partido - a vila em que estava havia sido libertada três semanas antes.
Cybulska se casou e mudou-se para os Estados Unidos. Bielecki também constitui família na Polônia. O casal só voltaria a se encontrar após ela contar sua história para sua faxineira polonesa, que recordava ter ouvido a mesma história na televisão. ‘Eu conheço a história, eu vi um polonês na TV dizendo que conduziu sua namorada judia de Auschwitz’, a faxineira disse a Cybulska, segundo Bielecki. Em uma manhã de maio de 1983 ele recebeu uma ligação. ‘Eu ouvi algumas risadas - ou choro - no telefone e então uma voz disse 'Juracku, sou eu, sua pequena Cyla', conta Bielecki.
Algumas semanas depois, o casal de reencontrou no aeroporto de Cracóvia. Ele levou 39 rosas, uma para cada ano que permaneceram distantes. Ela o visitou na Polônia várias vezes, inclusive foram junto ao memorial de Auschwitz. ‘O amor começou a voltar’, diz o ex-prisioneiro. ‘Cyla me dizia: deixe a sua mulher, venha comigo para os Estados Unidos. Ela chorou muito quando eu disse: olha, eu tenho uma criança muito boa, eu tenho um filho, como poderia fazer isso?’, acrescenta. Ela então prometeu que não retornaria mais. Cybulska não voltou a entrar em contato e não retornou as cartas até 2002, quando morreu em Nova York.
Em 1985, o Instituto Yad Vashem de Jerusalém condecorou Bielecki por ter salvo Cybulska. ‘Eu estava muito apaixonado por Cyla, muito. Algumas vezes eu chorava após a guerra, por ela não estar comigo. Eu sonhava com ela de noite e acordava chorando. O destino decidiu por nós, mas eu faria tudo de novo’.”
 
Acesso em 13.04.2011


História 2
Escoteiro, Kazimierz Piechowski, conta como fugiu de Auschwitz

“No dia 20 de junho de 1942, o guarda da SS, que fazia a vigia da saída do campo, estava assustado. Na sua frente se encontrava o carro de Rudolf Höss, seu comandante. No interior, havia quatro homens da SS e um deles (um subtenente) lhe gritava: abra logo esse portão ou vou abrir você! Aterrorizado, o guarda levantou a barreira, permitindo que o carro saísse e se afastasse a toda velocidade.
Mas se o guarda tivesse olhado um pouco mais de perto, teria notado que os homens no interior daquele veículo estavam suando e seus rostos estavam escurecidos pelo medo. Longe de serem nazistas, aqueles homens eram prisioneiros poloneses com uniformes roubados, que acabavam de protagonizar umas das fugas mais audazes da história de Auschwitz. O subtenente mandão, que gostava de gritar, era, em realidade, o escoteiro Kazimierz Piechowski e o lema ‘Sempre Alerta’ se converteu em seu salva-vidas.
Kazimierz Piechowski tem hoje 91 anos e conhecemos suas história através da Associação Escoteira Britânica, que lhe homenageou recentemente.
Quase 70 anos depois, o preso 918 é o protagonista de um ato celebrado na Baden-Powell House, em Londres. Impecavelmente vestido, com as costas retas como as de um adolescente, recebe o lenço comemorativo e escuta uma canção que fala sobre sua fuga do campo de concentração. Depois das canções e felicitações, Kazik, como gosta de ser chamado, começa a contar histórias que poucas pessoas haviam escutado. Como, por exemplo, o fato de que durante a ocupação nazista, os escoteiros eram assassinados nas ruas ou enviados aos campos de concentração.
Quando começou a ocupação alemã na Polônia em 1939, o movimento escoteiro foi considerado pelos invasores com um símbolo de nacionalismo polonês e um forte candidato a formar parte da resistência.
Quatro dias depois de declararem a guerra, os alemães chegaram a minha cidade e começaram a atirar contra os escoteiros. Eu sabia que cedo ou tarde me matariam, então decidi fugi’.
Kazik tentou escapar através da fronteira húngara, mas foi capturado e, depois de passar por várias prisões, foi mandado para Auschwitz. Lá ele foi obrigado a trabalhar durante 12 a 15 horas diárias para ampliar o campo de concentração, que não era grande o suficiente para receber os milhares de prisioneiros que chegavam. Também teve que trabalhar recolhendo cadáveres de seus companheiros executados.
‘As vezes eram 20 por dia. As vezes eram 100. As vezes eram mais. Homens mulheres e crianças’. Seu olhar transparece raiva e ele repete: ‘…e crianças’.
Kazik, depois de um elaborado plano, conseguiu fugir do campo de concentração junto a seus companheiros. Ele escreveu dois livros contando suas experiências e trabalha para que ninguém esqueça o que aconteceu em Auschwitz.
O senhor não se importa em reviver seu passado?
Fonte:
Acesso em 14.04.2011

Caminhante
É árdua e penosa a minha tarefa de buscar informações e postá-las neste blog.
As minhas experiências nos dois dias em que fui a Auschwitz, misturadas com as informações desse cenário de horror, me enfraquecem. Preciso de tomar um fôlego.


Um comentário:

  1. A História 1 é incrível e de uma grande lição. Pelo sentimento do amor, o ser humano é capaz de arriscar tudo. Em um campo de concentração, mesmo nas piores condições psicológicas, na crueldade diária dos extermínios de, principalmente, crianças e idosos, ambiente de profunda dor e depressão, desespero e loucura é capaz de surgir o sentimento do amor. É inacreditável.
    Fico imaginando a emoção que transbordou quando o Sr. Jerzy Bieleck e a Sra. Cyla Cybulska encontraram-se novamente na Polônia, depois da guerra. Acredito que a Sra Cybulska não respondia as cartas, porque a dor interior deveria ser muito grande...a lembrança deveria doer muito. Era melhor apagar tudo da memória, fingir que nada aconteceu. Ambos fugiram de Auschwitz por amor, depois fugiram de si mesmos pela mesma razão. Parte de suas vidas conseguiram fugir de um ambiente sem amor e o restante da vida passaram “negando”, em nome da consciência, um silêncio de dor. Mas, sempre souberam interpretar, no cenário da vida, a grandeza do amor.

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