Décimo primeiro dia - 04.03.2011
Bolonha
Background
Aqui abro um parêntese para a situação da estrada até Bolonha, no dia 02.03.2011, quando tentamos ir a Bolonha.
60-Primeira tentativa de ir até Bolonha (a) |
61-Primeira tentativa de ir até Bolonha (b) |
1º.movimento
Partigiani
Alegro
‘Partigiani’ foram os civis que formaram um grupo de resistência e lutaram contra o nazi-fascismo na Itália.
Cerca de 300.000 pessoas, das quais aproximadamente 35.000 eram mulheres, de tendências políticas diferentes e às vezes antagônicas participaram da resistência italiana, que teve início com a escensão do fascismo.
Durante a guerra, os ‘partigiani’ formaram um grupo de guerrilha e tiveram participação fundamental para a derrota alemã pois conheciam geograficamente o país e também as fortificações alemãs.
Eles capturaram e executaram Benito Mussoline em 28 de abril de 1945.
Cantante
Aqui reproduzo parcialmente a conversa que eu e Mário Pereira tivemos com o
partigiani Francesco Berti Arnoaldi Veli, que vem de uma família nobre de Bolonha.
Os textos estão aspados, mas são a minha tradução, revisada por Mario Pereira, do que ele falou em italiano.
Sobre a suas origens:
“Eu vinha de uma família burguesa”.
“Minha casa era repleta de livros“.
“Naquela época eu tinha 18 anos, e para um jovem italiano
dessa idade era muito importante ter distintivo de Mussuline ou de Hitler”.
Sobre a sua vida:
“Sou de uma família bastante respeitada”;
“Poucos podem dizer que tiveram a vida que tive. Sempre fui independente”
Sobre a memória:
“A memória é sempre seletiva”.
“Minha memória é a memória da memória do que vivo e do que me foi contato”
Sobre a liberdade:
“O regime facista assassinou, em plena praça pública o meu professor de filosofia. Assassinou também um jornalista que eu admirava muito, que falava que a liberdade é filha da justiça e a justiça é filha da liberdade.
Diante desses dois fatos eu mudei minha mentalidade, fui para a resistência lutar pela liberdade”.
“A liberdade não pode morrer”.
Sobre a resistência:
“Nós éramos uma brigada de justiça e liberdade”.
“A partir de julho de 1944 nós nos organizamos”.
“A grande maioria dos partigiani era camponeses, sem leitura, opositores do regine nazi-fascista”.
“Havia quem pensasse que os partigiani eram todos comunistas”.
Sobre as armas:
“Nós sabíamos como manusear as armas”;
“Fomos uma brigada de guerrilha”.
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62-Francesco Berti Arnoaldi Veli, durante entrevista |
Sobre os brasileiros:
“Os brasileiros não tinham prática de guerra”.
“Os brasileiros eram sempre alegres. Tinham uma felicidade muito grande em se comunicar. Dividiam sua ração com a população”;
“Na minha casa da
Guanela, em Gajo a Montana, havia uma grande biblioteca. E um pracinha escreveu uma mansagem no livro ‘Teatro- de Victor Hugo’, que foi encontrada e transcrita muitos anos depois“.
Sobre a guerra:
“Sinto não ter tido, na época, uma câmera fotográfica em minhas mãos para fotografar o tamanho da destuição em Monte Castelo”.
Sobre o significado da paz:
“O fio da história da humanidade é a guerra”.
“Tem um filósofo alemão que fala que paz é o intervalo entre duas guerras. Eu não concordo com isso“.
“Paz é algo que vem de dentro”.
“A paz é o que o homem tem como escopo de sua vida”.
Caminhante
Este é um dos momentos mais importantes de meu projeto aqui na Itália, levando em conta a importância que os partigiani tiveram na vitória das forças aliadas.
Este é, com certeza, um ser humano lindo. E punto e basta.
63-Francesco Berti Arnoaldi Veli e Eliane Velozo |
64-Francesco Berti Arnoaldi Veli e Mario Pereira |
2º. Movimento
O Teatro de Victor Hugo
Alegro
A Casa da Guanela tem um significado muito especial para alguns participantes da resistência e da guerra em geral, de lá saiu o livro com o texto que aqui reproduzo.
Cantante
Texto encontrado no livro “O Teatro de Victor Hugo”
”Fevereiro, esteve aqui acantonado neste casarão o soldado Rodolfo Vieira de Santana junto com diverços amigos, mas afirmo que aqui não è bom pois todo o santo dia estão caindo bombas o que é muito. Eu só queria que você fosse um dia para ver as praias do meu Ceara tinha certeza que você gostaria de ver os mares bravios das praias de lá entre os coqueiros e salgueiras bem verdes balançando ao vento bem pertinho do céu onde nasceu a virgem do poema à linda Iracema dos lábios de mel. Oh quanta saudade de lá. Oh quanta saudade de lá...a jangadinha vai se deslizando o pescador sem peixe vai pescando no verde mar que não tem fim.....no Ceara é assim (continua preta) Brasil oh meu Brasil terra da liberdade
Brasil o meu Brasil nunca usou de fidelidade. Nos estamos na guerra em defesa da nossa terra, se a pátria me chama eu vou, eu vou serei um grande defensor.
Mas quando eu perdi a paciência lá em casa a minha mulher não gostou minha criada que”
(Ali quebra-se a crônica do soldado brasileiro, que evidentemente deve ter tido problemas, talvez um bombardeio há mais.
O nosso sobreviveu e, conforme os datos abaixo, voltou para o Brasil.
Rodolfo Vieira Santana
Matr 03.1443
Identidade 1G-306468
Embarcou em 23/11/1944
11° Reggimento Infanteria
Morto 17/12/1990
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65-Eu com o livro contendo escritos, à mão, de Rodolfo Vieira Santana |
Caminhante
É um momento muito especial encontrar, aqui na Itália, os escritos de um pracinha. É muito importante o fato de ele ter escrito no livro.
Aqui estou eu, com o livro e o texto em minhas mãos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEmocionante.
ResponderExcluirVi aqui: https://youtu.be/osMO9d77ZtI?t=743
"LIBERATORI" - A FEB vista pelos italianos (filme completo)
Meu nome é Mariane Dantas Santana Rosmaninho. Sou filha de Rodolfo Vieira Santana e Maria Georgina Dantas Santana. Meu pai é o Pracinha que escreveu no livro "O Teatro de Victor Hugo". Vc não sabe a emoção e a felicidade que senti ao ver o seu blog e o livro e os escritos do meu pai. Sempre quando eu via fotos da segunda guerra ou assistia à documentário, procurava o rosto do meu pai, mas nunca encontrava. No dia 07.10.2019, um dia depois do meu aniversário, minha sobrinha Natasha, que adora saber do avô, enviou-me o seu blog. Quando abri e vi, junto com minha filha Giselle, o que estava escrito, fiquei maravilhada. Posso dizer, com certeza, que foi um presente de Deus. Obrigada por compartilhar, serei eternamente grata. Abraços e fique com Deus.
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